A política invadiu nesta quinta-feira (13) as telas de Cannes com uma  sátira demolidora ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi,  após o terremoto de L'Aquila, em 2009.
Dirigido por Sabina Guzzanti, considerada a "Michael Moore italiana",  o documentário Draquila: la Italia Che Trema (Dráquila - a  Itália que Treme) provocou reações indignadas de Roma, para quem o  filme "insulta todo o povo italiano" e é "pura propaganda contra  Berlusconi".
A seleção do documentário para a mostra oficial do festival irritou o  ministro da Cultura italiano, Sandro Bondi, que se recusou a viajar a  Cannes, apesar da presença do filme italiano La Nostra Vita, de  Daniele Luchetti, na disputa pela Palma de Ouro no evento  cinematográfico de maior prestígio do mundo.
O documentário de Guzzanti alega que Berlusconi e os aliados  aproveitaram a catástrofe de 6 de abril de 2009 - quando um violento  terremoto destruiu a capital dos Abruzzos e suas esplêndidas jóias  artísticas, com um balanço de 308 mortos e 80 mil desabrigados - para  enriquecer e cortar as liberdades civis.
A diretora, que em Viva Zapatero (2005) atacou o  primeiro-ministro italiano e seu desejo de controlar os meios de  comunicação, acusa Berlusconi em Draquila de utilizar a  reconstrução da devastada cidade para melhorar sua imagem, que havia  desabado após uma série de escândalos sexuais e de corrupção.
Guzzanti, uma atriz e cineasta de 46 anos para quem as portas dos  canais de televisão italianos estão fechadas desde 2003, pelas críticas a  Berlusconi - dono dos três canais privados mais importantes do país -,  desmonta os mecanismos usados pelo governo de direita para manipular a  opinião pública.
Draquila alega que Berlusconi tentou transformar a Agência  de Proteção Civil, que foi designada para dirigir as operações de  resgate e reconstrução, em uma empresa privada com poderes quase  ilimitados.
Em fevereiro, pouco antes de terminar o filme, a agência foi objeto  de uma investigação de corrupção sobre a atribuição de contratos  públicos.
Durante 90 minutos e com dezenas de entrevistas, muitas delas  favoráveis ao primeiro-ministro italiano, o documentário examina também  as máquinas usadas pelo governo para violar todas as restrições do  planejamento urbano.
O polêmico filme - o quarto da diretora - termina com imagens do  passado esplêndido da cidade, cujo centro histórico continua em ruínas.
Antes dinâmica e repleta de estudantes, L'Aquila é agora uma cidade  deserta, enquanto as casas construídas pelo governo, com um custo muito  acima da média de mercado, ocupam uma área isolada.
O senso de comunidade, que era uma das coisas mais prezadas pelos  moradores, não existe mais, demonstra o filme, que pergunta no fim até  quando os italianos votarão em Berlusconi.

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